Armando Coelho Neto
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.
[email protected]

Supostos terroristas de hoje são crianças da guerra anterior, por Armando Coelho Neto

Pois é Tarcísio e Caiado, os senhores deixaram de lado problemas de seus estados, para assinar o livro do novo holocausto.

Reprodução redes sociais via Metrópoles

Supostos terroristas de hoje são crianças da guerra anterior

por Armando Coelho Neto

Israel não está sozinho. Agora, tem também apoio dos governadores Tarcísio de Freitas (SP) e Ronaldo Caiado (GO), candidatos a herdeiros do acervo de ódio deixado pelo ex-presidente, defenestrado pelas urnas em 2022. Ambos descobriram que sangue, violência, demagogia, satanismo em nome de Deus e dinheiro, muito dinheiro (!) não importa de onde venha, podem dar milhões de votos.

Em foto veiculada pela imprensa, os dois aparecem sorrindo ao lado do sanguinário Benjamin Netanyahu, senhor da matança em Gaza. O nojo provocado pela foto, a abstenção dos Estados Unidos contra um cessar fogo, a indiferença de Israel às decisões da ONU, as imagens sádicas, sórdidas, sangrentas, gente metralhada ou se afogando para tentar conseguir comida… Desaguaram nessas linhas.

À revelia dos judeus de bem, o lema dos extremistas é: “Não poupe nenhuma alma. A grávida de hoje vai dar a luz ao terrorista de amanhã”. Tarcísio e Caiado sabem bem disso, mas preferem ignorar, pois têm interesses maiores para breve e nenhum dos dois disfarça a simpatia pelo avanço do nazifascismo, hoje banalizado pela grande mídia, também conhecida como imperialista, hereditária, corporativa…

Entre os vídeos que circulam nas redes sociais que a mídia nazifascista esconde, há um em que um suposto religioso defensor de Israel é bem objetivo. Ele diz que “A regra básica quando estamos lutando na guerra sagrada, no caso em Gaza, tudo corre de acordo com a doutrina do ‘Não poupe nenhuma alma’, pois há nisso uma lógica muito clara: se você não os matar, eles vão tentar matar você”.

Pois bem, se a Justiça Brasileira impõe censura ao jornalista judeu Breno Altman – que não recebe sequer a solidariedade de grande parte dos seus pares, muitos dos quais pretensos defensores da liberdade de expressão, melhor não dar nome ao tal religioso e tratá-lo como suposto judeu extremista. No momento, o sentido das palavras quem dá é o senhor da guerra e a mídia nazifascista assina embaixo.

Terroristas de hoje são as crianças da guerra anterior que mantivemos vivas. É preciso matar mulheres pois sãos elas que criam os terroristas. Não poupar nenhuma alma é baseada na doutrina que diz: aquele que vem matar você à tarde, mate-o de manhã. Quem vem te matar não é necessariamente o jovem, mas sim a próxima geração. Por que os idosos? Eles também podem carregar armas e atirar.

Pois é Tarcísio e Caiado, os senhores deixaram de lado problemas de seus estados, para assinar o livro do novo holocausto. Saibam, pois, que o pretenso religioso recorrendo a supostas inspirações da Torá, de forma cínica e categórica sentencia que, quem tem 18 anos hoje, tinha apenas oito na guerra anterior. Portanto, não poupar nenhuma alma é um conceito inexorável de lógica muito clara.

Essas sórdidas afirmações, aqui relativizadas com a expressão “suposta”, estão em prática no dia a dia em Gaza. Entre as mais de 30 mil pessoas assassinadas, a maioria é de mulheres e crianças; São mais de 70 mil feridos, sem contar os que ainda estão sob escombros. A propósito, 70% das moradias, todas as universidades e mais de mil mesquitas das 1200 existentes foram destruídas.

O lema “Não poupe nenhuma alma” fica claro no relato de Basem Naim, médico formado na Alemanha, chefe do Conselho de Relações Internacionais e interlocutor em Gaza, do Grupo Hamas. “Soldados de Israel expulsaram ocupantes de um hospital pediátrico e desligaram o oxigênio das incubadoras e as crianças morreram. Mataram dois ocupantes de uma ambulância que tentavam salvar uma menina”.

As declarações de Bassem se deram numa entrevista a Rui Pimenta, presidente do Partido da Causa Operária, que decidiu suprir lacuna da imprensa fascista que não se dá o trabalho de ouvir o outro lado, como bem lembra o perseguido Breno Altman. “É a primeira vez na história de uma guerra, que morrem mais mulheres e crianças do que homens… 75% da população de Gaza tem menos de 18 anos”.

Para a mídia nazifascista, tudo começou no fatídico dia 7 de outubro. Como era antes? “Gaza é maior prisão a céu aberto do mundo e ou o maior campo de concentração”, diz Bassen. Gaza foi invadida dezenas de vezes e, “em 2006, por exemplo, não houve um só dia no qual tivemos energia o dia inteiro”. Mesmo a comida autorizada a entrar tinha que ser suficiente para apenas um dia.

O porta-voz internacional do Hamas afirma que água, luz, combustível, internet, dinheiro tudo em Gaza era controlado por Israel. Pequenos comércios foram fechados e, sem economia, 85% da população depende de ajuda internacional e 80% vive abaixo da linha da pobreza. Até as calorias de alimentos tinham controle e pessoas eram impedidas de saírem para tratamento de saúde fora da região.

Humilhados e com armas desiguais, o 7 de Outubro foi uma explosão de revolta, resistência, tratada como terror. Mas, que nome pode ser dado ao genocídio subsequente que se assiste ao vivo? Que nome dar a crianças mortas sem oxigênio em incubadoras? Sim, num ponto Israel tem razão: os sobreviventes de hoje podem, sim, se tornarem agressores de amanhã, sem a criação de um Estado Palestino.

É isso aí, Tarcísio e Caiado!

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.

Armando Coelho Neto

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

1 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Seu texto é impactante! Com dor no peito agradeço sua atenção e ajuda no esclarecimento da situação que a mídia fascista e lateral brasileira se escora.
    Os governadores que apoiam esse genocídio em Gaza são do mesmo esgoto onde saiu o messias. Cúmplices? Interesseiros? Ou apenas levianos e inconsequentes? Vou divulgar seu texto dessa dor inenarrável. Do que o homem é capaz! Absurdo!

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador